presidente da Associação Brasileira de Criminalística (ABC), Bruno Telles, afirmou nesta terça-feira (23) em entrevista ao G1 que não é possível realizar uma perícia "confiável" e "minimamente conclusiva" em um áudio sem que o equipamento utilizado para gravá-lo seja analisado.
Nos últimos dias, diversos peritos deram entrevistas e realizaram perícias independentes sobre a gravação de uma conversa entre o presidente Michel Temer e o dono da JBS, Joesley Batista. A defesa do presidente contratou o perito Ricardo Molina, que afirmou que a gravação é "imprestável" como prova numa investigação e não seria aceita em uma "situação normal".
Com base na gravação e em informações prestadas por Joesley e o irmão Wesley Batista, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Edson Fachin autorizou a abertura de inquérito para investigar o presidente pelos crimes de corrupção passiva, obstrução à Justiça e organização criminosa.
"Sem os gravadores, não é possível analisar e tirar conclusões confiáveis. Não há como."
Para o presidente da ABC, que reúne peritos oficiais de todo o país, qualquer análise feita sem que o gravador tenha sido periciado não pode ser levada em conta até que a Polícia Federal conclua a perícia oficial.
"A PF pediu os gravadores. Sem os gravadores, não é possível analisar e tirar conclusões confiáveis. Não há como. É preciso saber se o gravador é o causador dos ruídos, qual o software que utiliza, e qualquer coisa que fuja disso, pode e deve ser questionada", disse o presidente da ABC.
"Todos esses que estão vindo à mídia, fazem perícia técnicas, não oficiais, e nem sempre entregam um trabalho confiável. [...] Vivem de serem contratadas por clientes e fazem perícias técnicas, não oficiais. Não tem nada de errado nisso, mas muitos desses não têm competência técnica e até mesmo situação financeira para se manter atualizados e com bons equipamentos", afirmou Telles.
"Nenhum parecerista que é contratado por um cliente vai elaborar uma perícia para piorar a situação de quem o contratou."
Ele disse ainda que os "pareceristas" que elaboraram as análises até o momento "absolutamente não sabem o que estão fazendo". Bruno Telles afirmou também que, muitos desses, são "curiosos" que aparecem na mídia.
Durante a entrevista, o presidente da associação ressaltou que nenhum perito contratado por alguém "vai elaborar uma perícia para piorar a situação de quem o contratou".
"O perito, o parecerista técnico tem que defender o ganha-pão dele. Não tem problema nenhum, é o trabalho dele. [...] É muito caro. Eu duvido muito que algum parecerista técnico tenha condição de bancar um equipamento para realizar essa análise", complementou.
Ao questionar as análises já realizadas, Bruno Telles explicou que, normalmente, uma perícia demora 30 dias para ser concluída.
"Mas acredito que a PF vai dar total prioridade a isso, e a análise dificilmente será feita por uma pessoa só", concluiu.