Encontro reúne jovens de seis estados do nordeste e discute sucessão rural

Plenária debateu plano de juventude e mecanismos de permanência do jovem no campo.

09/04/2019 - 09h30

O II Encontro de Jovens Rurais do Semiárido encerrou, no domingo (07), em Picos, com uma noite cultural. O evento reuniu cerca de 500 jovens de seis estados do nordeste (Sergipe, Piauí, Ceará, Bahia, Pernambuco e Paraíba) durante três dias. Além de oficinas, plenárias e mostra de produtos, o encontro ainda teve uma conferência especial, com o teólogo Leonardo Boff, e apresentações culturais.

 Encontro reúne jovens de seis estados do nordeste e discute sucessão rural.

A segunda edição do evento é uma realização do Governo do Piauí, por meio da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural (SDR) e da Coordenadoria da Juventude do Estado do Piauí (Cojuv), com o apoio do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), do Projeto Semear e do Instituto Comrádio.

No sábado, o encontro iniciou com a palestra “Os novos desafios da sucessão rural do semiárido brasileiro”, proferida pelo teólogo Leonardo Boff. Esse tema permeou grande parte dos eixos das 14 oficinas que ocorreram no mesmo dia, e também, as três plenárias que foram realizadas, simultaneamente, no domingo e que trataram de temas como Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural: os novos rumos da Política Pública de Juventude do Campo; Quebrando paradigmas: Juventude, relações de gênero e diversidade sexual; e Economia Solidária e Desenvolvimento Sustentável: alternativas de trabalho para a juventude rural.

Após as plenárias, os jovens apresentaram os resultados das atividades realizadas no encontro em uma plenária final, que encerrou com a leitura e aprovação da Carta das Juventudes do Semiárido.

“Surpreendeu nossas expectativas a participação de jovens de tantos estados. Ficamos com o sentimento e o desejo de realização de um terceiro encontro, em outro estado do nordeste. A articulação para a realização do evento se deu ainda em 2017, quando conversamos com o pessoal do Procase, na Paraíba, para saber como foi o primeiro encontro. Fizemos essa articulação com a SDR que nos ajudou e esteve à frente para realizar o encontro, articulando com os outros estados e com os projetos financiados pelo Fida, órgão que financiou o evento. Hoje, estamos muito satisfeitos e é com alegria que chegamos ao final desses dois dias de muito debate e de muita festa”, afirmou o coordenador estadual da Juventude, Vicente Gomes.

A plenária sobre o Plano de Juventude e Sucessão Rural: os novos rumos da Política Pública de Juventude do Campo reuniu cerca de 150 jovens. Os palestrantes foram Vicente Gomes, Luiza Dulci, Francisco Mendes Coelho e Priscilla Gomes de Araújo.

Cícero Dantas, de Iguatu, no Ceará, que faz parte da organização social Elo amigo, avalia que um encontro como este, é um poderoso instrumento multiplicador. “Eu vejo uma diversidade no campo e vejo também que as pessoas multiplicam respeito num evento como este. Vou levar para a organização social da qual faço parte, por exemplo, a discussão que tivemos aqui sobre a questão da permanência do jovem no campo e a facilidade da convivência com o semiárido”, frisou Cícero.

Luiza Dulci participou da elaboração do Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural que surgiu como demanda no 3º Encontro da Juventude da Contag, em 2015. Nesse mesmo ano, ocorreu também a 3ª Conferência Nacional de Juventude e o governo federal aproveitou para colher mais informações do segmento com entidades como o MPA, o MST, organizações indígenas e quilombolas. Na época, Dulci era assessora de Juventude do Ministério do Desenvolvimento Agrário e coordenou a elaboração do plano.

“O plano tem cinco eixos: acesso à terra, trabalho e renda, educação do campo, qualidade de vida e participação, comunicação e democracia. Apesar de estarem nessa ordem de apresentação, para influenciar na sucessão rural, claro que o acesso à terra é uma questão fundamental, sem terra não há condições de permanecer e talvez por isso tenhamos colocado esse primeiro eixo em destaque. Porém, há uma diversidade de necessidades em relação à juventude rural no Brasil que, por exemplo, no Rio Grande do Sul, há acesso ao crédito mais consolidado, o que dificulta neste estado é o acesso à internet que é falho e a falta de acesso a bens culturais. No nordeste, já é uma outra demanda, mas acredito que esses cinco eixos tentam abranger as necessidades do Brasil”, disse Luiza.

Ao final do evento, representações juvenis escreveram uma carta política com uma síntese de todas as discussões realizadas durante o encontro. O documento também trazia um alerta diante das mudanças sociais ocorridas nos últimos anos, especialmente o atual sistema produtivo e seu impacto no meio ambiente.

Para o diretor de Inclusão Produtiva e coordenador do Programa Viva o Semiárido (PVSA) no Piauí, Francisco das Chagas Ribeiro (Chicão), esse foi um encontro diferenciado e marcante, com destaque para as quatrocentas inscrições feitas com antecedência, pela internet. “Foi um evento com características fortes da juventude que tem garra, animada, de jovens militantes, pois a maioria é vinculada a algum movimento ou organização, e isso nos dá esperança de resultados mais concretos, do trabalho desenvolvido nesses três dias de encontro, após a realização de 14 oficinas, de um palestrante experiente, carismático e que não só a juventude, mas todos os segmentos têm muito respeito. Todos estes aspectos nos incentivam e nos dão esperança de que teremos muitos resultados na chegada destes jovens aos seus estados, às suas comunidades e aos seus projetos”, concluiu o diretor.