Mais de 50% das vítimas de estupro têm até 13 anos

22.918 casos de estupro foram registrados pelo sistema de saúde em 2016, mas esses dados correspondem a, no máximo, 10% da quantidade real de estupros de cada ano.

08/06/2018 - 14h59

O Atlas da Violência 2018 que foi divulgado na última terça-feira (05) revelou alguns dados preocupantes a respeito da violência no Brasil. Os dados coletados revelaram que 50,9% das vítimas de estupro tinha até 13 anos. 22.918 casos de estupro foram registrados pelo sistema de saúde em 2016. As adolescentes de 14 a 17 são 17% das vítimas e 32,1% eram maiores de idade.

O Atlas da Violência 2018 é uma realização do Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

No entanto, o estudo também apontou uma discrepância entre os dados da saúde com os das polícias brasileiras, que registraram 49.497 casos de estupro no ano, conforme 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Ainda assim, conforme David Marques, pesquisador do FBSP, esses dados correspondem a, no máximo, 10% da quantidade real de estupros de cada ano.

“Esse número é muito pior. Isso em grande medida tem a ver com a confiança que essas vítimas podem ter no próprio sistema de segurança ou de saúde, da forma como vai ser acolhida e da resposta pública a ser oferecida para a situação dramática que estão enfrentando”, afirmou o pesquisador.

Estimativas de outras pesquisas apontam que mais de 1 milhão de pessoas podem ser vítimas de violência sexual por ano no Brasil. O mesmo acontece nos Estados Unidos, onde apenas 15% dos estupros são reportados à polícia. Nessa proporção, conforme o texto do Atlas da Violência 2018, os casos de estupro no Brasil podem chegar a 500 mil a cada ano.

De 2011 para 2016, houve um aumento de 90,2% nas notificações de estupro no país. Os pesquisadores atribuem os dados ao aumento da prevalência de estupros, além do aumento no número de pessoas denunciantes a partir de campanhas feministas e governamentais. Também houve um aumento no número de centros de referência e centros de saúde.

O pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública também explicou que muitas vítimas já conhecem quem as agride e violenta. “Nos casos de crianças até 13 anos, 30% dessas vítimas são violentadas por familiares e próximos, como pais, irmãos e padrastos. Entre as adultas, 46% foram vítimas de uma pessoa que de alguma forma elas conheciam”, esclareceu David Marques.

Homicídio

O Atlas da Violência 2018 revelou que o número de pessoas mortas de forma violenta no Brasil é semelhante ao de países em guerra.

De acordo com o documento, o Brasil registrou 553 mil pessoas assassinadas nos últimos onze anos. O total de mortos é maior que o da Síria, país árabe que já está no sétimo ano de conflito amardo e contabiliza 500 mil mortos, conforme estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU).

Racismo

O Atlas da Violência 2018 também divulgou dados que demonstram todo o racismo presente no Brasil. De acordo com o relatório, em um período de dez anos (entre 2006 e 2016), a taxa de homicídios de negros cresceu 23,1% enquanto que, no mesmo período, a taxa de homicídios de brancos teve uma redução de 6,8%.

Situação das mulheres negras

De acordo com o estudo, a situação das mulheres negras também é grave, já que a taxa de homicídio entre elas foi 71% superior à de mulheres não negras.