Uma série de reportagens publicadas neste domingo (9) pelo site The Intercept mostra que o ex-juiz federal e hoje ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, orientou as investigações da operação Lava Jato em Curitiba por meio de mensagens trocadas pelo aplicativo Telegram com o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa.
Sérgio Moro combinou com o MP estratégias para incriminar Lula, afirma The Intercept.
O The Intercept Brasil afirmou que recebeu de uma fonte anônima um grande volume de mensagens trocadas no Telegram entre membros da Lava Jato e entre Dallagnol e Moro. O site foi fundado pelo jornalista norte-americano Glenn Greenwald, um dos autores da reportagem. Ele ficou conhecido mundialmente após ajudar o ex-analista de sistemas Edward Snowden a revelar informaçÕes secretas obtidas pela Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos.
Segundo a reportagem, Moro teria combinado com Dallagnol estratégias de investigação para implicar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em atos criminosos. Numa das conversas, de outubro de 2015, Dellagnol e Moro conversam sobre soltura de Alexandrino Alencar, diretor da Odebrecht próximo a Lula.
“Estamos com outra denúncia a ponto de sair”, escreve Dallagnol. “Seria possível apreciar hoje?”. Em outro trecho, o procurador elogia o juiz por manifestações populares pedindo o impeachment da então presidente Dilma Rousseff, em março de 2016.
Novos detalhes ainda devem vir à tona, mas a reportagem tem repercutido entre os principais atores políticos do país e analistas. Segundo Fernando Haddad, candidato do PT às eleições de 2018, é “o maior escândalo institucional da história da República”.
Podemos estar diante do maior escândalo institucional da história da República. Muitos seriam presos, processos teriam que ser anulados e uma grande farsa seria revelada ao mundo. Vamos acompanhar com toda cautela, mas não podemos nos deter. Que se apure toda a verdade!
— Fernando Haddad (@Haddad_Fernando) 9 de junho de 2019
Em nota, o Ministério Público afirma que “os dados eventualmente obtidos refletem uma atividade desenvolvida com pleno respeito à legalidade e de forma ténica e imparcial”.
Às 20h49, Deltan Dallagnol foi ao Twitter. “A atuação sórdida daqueles que vierem a se aproveitar da ação do ‘hacker’ para deturpar fatos, apresentar fatos retirados de contexto e falsificar integral ou parcialmente informações atende a interesses inconfessáveis de criminosos atingidos pela Lava Jato”, escreveu.
“Os procuradores da Lava Jato não vão se dobrar à invasão imoral e ilegal, à extorsão ou à tentativa de expor e deturpar suas vidas pessoais e profissionais”. https://t.co/cTcm0qmKdo
— Deltan Dallagnol (@deltanmd) 9 de junho de 2019
A reportagem do Intercept e seus desdobramentos têm pontecial de mexer com os mercados a partir desta segunda-feira (10). Segundo conteúdo divulgado pela XP, a Lava-Jato sofreu seu ataque mais importante até aqui. Porém, segundo a corretora, “há que se considerar para o debate jurídico que o material revelado é fruto de ação ilegal”.
Com informações de UOL e Exame.