O ressurgimento da Doula
A Doula ajuda e prepara a mulher para o seu nascimento como mãe
O parto, é um grande acontecimento na vida da mulher, é um ritual de passagem feminino, é o fim da fase gestacional e o início da maternidade. É uma transformação do ser feminino, que modifica tanto a existência dela quanto de todos que a cercam.
Hoje em dia há uma maior valorização do parto humanizado onde se busca readequar o processo de parto dentro de uma perspectiva menos medicalizada e hospitalar, entendendo tanto a mulher quanto o bebê numa visão mais humana e acolhedora. Nesta visão de parto, os protagonistas de todo o processo são a mãe e o bebê. Sendo assim, tão importante quanto os procedimentos médicos, também são observados com mais carinho e atenção os cuidados com a mãe e o filho que estão nascendo. É nesse contexto que surge a figura da doula, que segundo o grego, significa “a mulher que serve” e é a profissional que acompanha e que oferece suporte afetivo, físico, emocional e de conhecimento para as mulheres. Esse suporte pode ser dado antes, durante e depois do parto. Sua presença, em especial, no parto, ajuda na humanização do procedimento, que segundo o Ministério da Saúde, deve seguir pelo menos dois preceitos:
1) É dever de toda unidade de saúde receber e tratar com dignidade a mulher, seus familiares e o nascituro, através de atitudes éticas e solidárias por parte dos profissionais de saúde e da instituição, criando ambiente acolhedor e instituindo rotinas que rompam com o tradicional isolamento da mulher.
2) Adoção de medidas e procedimentos benéficos à mulher e ao bebê, evitando práticas intervencionistas desnecessárias e que com frequência acarretam riscos a ambos.
Mas para compreender com mais detalhes o que uma doula faz, conversamos com uma, a Doula Márcia Silva nos esclarece sobre sua atuação e como se dá a assistência à mulher,
“O papel da Doula é atender as necessidades da mulher. É o personagem invisível que relembra a mulher o tempo todo sobre sua força e seu protagonismo. O ambiente hospitalar e as pessoas desconhecidas geram na mulher medo, dor e ansiedade na hora do parto. A Doula então oferece todo apoio afetivo e emocional para que a mulher sinta-se segura e tranquila para um dos grandes momentos da sua vida: o nascimento do seu filho.”
Apoio emocional para preparar a mãe.
“A Doula antes do parto ajuda a mulher e o seu acompanhante a refletirem e escolherem suas opções para o parto, explicando os diferentes tipos, as vantagens e desvantagens de cada um, as intervenções que podem ser realizadas e prepara a mulher para quando chegar a hora do parto. O principal é criar um vínculo afetivo com essa mulher para que possa ajudar com todas as técnicas e experiências, mas sobretudo ser uma alma humana diante de outra”, complementa Márcia.
Técnicas para alívio da dor. Foto: Arquivos Márcia Silva.
A doula serve como uma ponte entre os complicados termos médicos e a parturiente, oferece alívio não farmacológico da dor ( massagens, ajuda a parturiente a encontrar posições mais confortáveis para o trabalho de parto, mostra formas eficientes de respiração e propõe medidas naturais que podem aliviar as dores, como banhos, e relaxamento) .
Técnicas para alívio da dor. Foto: Arquivos Márcia Silva.
A Doula também pode ser de grande valia no parto cesárea, ela também dá apoio, conforto e ajuda a mulher a relaxar durante a cirurgia que é um procedimento mais invasivo e que requer que a mulher esteja tranquila e segura.
Não é função da Doula realizar qualquer procedimento médico, como fazer exames, aferir pressão ou administrar medicamentos e cuidar da saúde do bebê. Ela oferece segurança, tranquilidade e conhecimento para um parto seguro e não substitui nenhum profissional envolvido na assistência ao parto.
Nas maternidades de Teresina ainda há uma resistência por parte de alguns profissionais em relação a entrada das doulas no centro obstétrico, pesar disso existe uma regulamentação, a Lei 4935 de 19/08/16, que dispõe sobre o direito à parturiente de indicar a doula durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato nas maternidades e hospitais do município de Teresina que realizam procedimentos obstetrícios, a lei abrange a função da doula nos seguintes procedimentos:
Preparar a mulher, física e emocionalmente, para o parto das mais variadas formas, além de fazer a interface entre a equipe de atendimento e a família;
Ajudar a parturiente a encontrar posições mais confortáveis para o trabalho de parto e parto;
Mostrar formas eficientes de respiração e propor medidas naturais que possam aliviar dores, como: banhos, massagens, relaxamento, dentre outras técnicas;
Apoiar o período pós-parto imediato, sugerindo melhores formas de amamentação e de cuidados como o bebê.
A Doula, indicada pela parturiente, poderá ingressar no ambiente de trabalho de parto, parto e de pós-parto, se necessário, com os seus instrumentos de trabalho, desde que a assistência e o uso do material sejam seguros à saúde da paciente nas diferentes áreas de atendimento, tais como equipamentos fisioterápicos, massageadores, óleos para massagens, bolsas térmicas para compressas, banqueta auxiliar para parto e equipamentos sonoros para musicoterapia.
Importante saber que doula não faz parto, não substitui o acompanhante, não faz nenhum procedimento técnico, não substitui nenhum profissional na assistência ao parto, não discute e nem questiona procedimentos da equipe de parto, mas sua presença está associada a dados como menor necessidade de cesarianas, menor duração de trabalho de parto, menor uso de analgesia, menos intervenções desnecessárias , melhor índice de apgar do bebê ao nascer e maior satisfação da mulher com a experiência de parto.
Márcia explica que a escolha de uma doula é muito pessoal. A gestante precisa sentir empatia gostar da presença daquela pessoa, afinal elas irão passar muito tempo juntas. Não existe doula melhor ou pior existe a doula que a gestante teve mais empatia, e finaliza com uma citação de John H. Kennell M D, médico pediatra, educador e escritor que revolucionou a forma que mães e bebês são tratados na maternidade: “Se doula fosse um remédio seria antiético não receitar”
A gestante precisa sentir empatia e gostar da presença. Foto: Arquivos Márcia Silva.