Pela 1ª vez, EUA celebram feriado nacional que marca fim da escravidão no país
O Juneteenth (uma junção das palavras "junho" e "19º" em inglês), era celebrado em alguns estados, mas ganhou força no ano passado, como símbolo da luta antirracismo.
Os Estados Unidos celebram neste sábado (19), pela primeira vez como feriado nacional, o Juneteenth, data que celebra o fim da escravidão no país.
Em 19 de junho de 1865, foram libertados os últimos escravos do país, em Galveston, Texas. Nesse dia, um general da União chegou naquela cidade e informou aos escravos que eles estavam livres. Em 1863, o presidente Abraham Lincoln decretou o fim da escravidão, mas o país estava em Guerra Civil entre estados do Norte (a favor da abolição) e do Sul (contra). Assim, os estados do Sul não seguiram a ordem. O conflito, vencido pelo Norte, acabou em abril de 1865, mas demorou dois meses para que a notícia chegasse a todas as partes do país.
O Juneteenth (uma junção das palavras "junho" e "19º" em inglês), era celebrado em alguns estados, mas ganhou força no ano passado, como símbolo da luta antirracismo. No ano passado, após o assassinato de George Floyd, a celebração da data ganhou força: vários protestos foram realizados no país em 19 de junho de 2020. Floyd foi morto por um policial branco em maio de 2020, e o caso gerou uma onda global antirracismo. Neste ano, haverá eventos em muitas cidades do país, como manifestações, shows e feiras de comida. Com o avanço da vacinação contra a Covid e o relaxamento das restrições, eventos presenciais de massa foram autorizados.
Em Nova York, foi inaugurada uma estátua de George Floyd, no bairro do Brooklin, como parte das celebrações. A cidade também teve um festival sobre a data no Queens, com duração de uma semana, com debates virtuais e uma feira com venda de churrasco, frango assado e waffles. Em Chicago, haverá uma marcha no distrito financeiro da cidade. "Nós celebramos o Dia da Independência, então seríamos negligentes se não celebrássemos o dia em que pessoas que valiam três quintos de uma pessoa [branca] finalmente se tornaram livres e iniciaram esta jornada em direção à igualdade", disse Ashley Munson, organizador do evento.
Munson se referiu a uma regra americana do tempo da escravidão: na contagem de população, cada pessoa negra era considerada como "três quintos" de pessoa, e não como ser humano pleno. Assim, dez negros eram contabilizados como seis habitantes, e não dez, por exemplo. Na cidade de Atlanta, que já celebrava a data há anos, uma manifestação sairá da igreja batista Ebenezer, onde o pastor Martin Luther King Jr (1929-1968), líder na luta pelos direitos civis, realizava cultos.
No estado do Colorado, haverá um evento de homenagem a Bessie Coleman, pioneira da aviação que foi a primeira mulher negra a obter autorização para pilotar, em 1921. Deneen Smith, 17, estudante negro do ensino médio, quer ser piloto e se inspira na história de Coleman. "É isso que o Juneteenth significa para mim: independência e liberdade para os afro-americanos, por causa da luta de nossos ancestrais", disse, à agência Reuters. "'Juneteenth' simboliza tanto a longa e difícil noite da escravidão quanto a promessa de um dia melhor", disse Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, na quinta-feira, ao proclamar o novo feriado junto a sua vice-presidente, Kamala Harris, que é negra.
A cerimônia foi marcada pela emoção, fruto de uma sucessão de decisões tomadas com uma rapidez e um consenso muito raros no ambiente político de Washington, que costuma ser marcado pela morosidade e por divisões. O processo começou na terça-feira (22), quando o senador republicano Ronald Johnson, que se opôs à criação deste feriado durante um ano por razões econômicas, suspendeu suas objeções. Pouco depois, o texto foi aprovado por unanimidade no Senado.
No dia seguinte, o projeto foi aprovado por grande maioria na Câmara dos Representantes. Logo a Casa Branca anunciou que Biden promulgaria a lei na quinta-feira. Mas havia um problema: 19 de junho deste ano cairia em um sábado, então, segundo as regras do país, o novo feriado teria que ser transferido para a sexta-feira. Houve dúvidas se seria possível, literalmente, decretar um feriado de um dia para outro, e alguma confusão inicial.
Por fim, foi anunciado que funcionários do governo federal considerados não essenciais teriam direito a folga na sexta (18). Em todo o país, os tribunais federais fecharam, exceto para certos serviços de emergência. Algumas embaixadas norte-americanas também pausaram suas atividades, prometendo remarcar os agendamentos consulares cancelados abruptamente.
"Queridas famílias. Amanhã estaremos fechados em cumprimento ao feriado federal, o Juneteenth!", informou por e-mail uma creche em Maryland na quinta-feira, poucos minutos antes da meia-noite. "Tenham um ótimo fim de semana!" No mercado financeiro, não houve tempo para organizar a mudança, e Wall Street funcionou normalmente. Mas espera-se que haja uma pausa nas atividades nesta data a partir do ano que vem. O Juneteenth se tornou o 12º feriado federal dos EUA, e o primeiro a ser criado desde que o presidente Ronald Reagan decretou o Dia de Martin Luther King Jr. em 1983, para comemorar o aniversário do líder de direitos civis que foi assassinado.
Fonte: Folha Press