Após flexibilização, cidades registram aumento de casos de coronavírus e voltam atrás
O prefeito de Belo Horizonte além de suspender a flexibilização, também falou da possibilidade de decretar lockdown.
Florianópolis, Belo Horizonte e Porto Alegre são exemplos de três capitais brasileiras que flexibilizaram, nos últimos dias, as regras de isolamento social. No entanto, os prefeitos destas capitais já estão voltando atrás e decretado medidas mais severas no cumprimento da quarentena para combater a propagação do novo coronavírus.
Gean Loureiro, prefeito de Florianópolis, capital que já estava com shoppings, galerias, centros comerciais, academias e outras atividades em funcionamento, anunciou novas medidas de isolamento nesta segunda-feira (22). Segundo o prefeito, os números de contaminados pelo novo coronavírus triplicaram e foram registrados diversos pontos de aglomeração na cidade durante o final de semana.
Com o novo decreto, shoppings e academias voltam a fechar as portas em Florianópolis. As praias poderão funcionar, mas apenas para prática de esportes aquáticos e de pesca e a multa para quem não usar máscara (que tem uso obrigatório em toda a cidade) ficará entre R$ 125 e R$ 1200 reais.
Além disso, o prefeito Gean Loureiro ainda afirmou que poderá suspender o transporte público na cidade a qualquer momento, dependendo do aumento no número de casos nos próximos dias.
Já em Belo Horizonte, o prefeito Alexandre Kalil falou da possibilidade de um lockdown. "Estou esperando resultado de hoje, mais tarde, mas se amanhã eu precisar convocar a imprensa e fechar cidade, não tenho o menor constrangimento em fazer isso”, afirmou em entrevista.
Ainda de acordo com Kalil, Belo Horizonte tem “avacalhado” e hoje está com mais de 80% dos leitos de UTI do SUS ocupados. Segundo ele, não há a menor possibilidade de abrir novamente shoppings, bares, restaurantes, lojas e centros comerciais no momento. “O que eu posso falar é que eu não vou abrir. Posso falar porque os cientistas já falaram que o momento é perigoso. Isso te garanto, que não vou abrir", disse ele.
O caso da capital do Rio Grande do Sul é um pouco diferente. Desde o início da pandemia, Porto Alegre vem adotando medidas de flexibilização e fechamento em seguida. Ainda em meados de junho, a capital havia anunciado mais restrições após apresentar aumento no número de casos com uma medida que permitia o funcionamento de shoppings e academias. No final de abril, o prefeito havia decretado nova flexibilização na capital que permitia a reabertura de indústrias.
A partir desta quarta-feira (24) até a sexta-feira (26), a maioria das medidas de flexibilização em Porto Alegre será interrompida e construção civil, indústria e comércio irão paralisar.
No Rio Grande do Sul, conforme o grau de risco em saúde, cada região recebe uma bandeira nas cores amarela, laranja, vermelha ou preta. Nesta quarta-feira (24), Porto Alegre está sob bandeira vermelha - significa que a capacidade de resposta do sistema de saúde está abaixo do nível de propagação da Covid-19.
Apenas mercados e farmácias poderão funcionar. Academias poderão receber um aluno por vez, antes podiam funcionar com um aluno a cada 16m². Restaurantes funcionarão apenas com delivery e retirada.
Bruno Miragem, secretário extraordinário de Enfrentamento do Coronavírus de Porto Alegre, explicou que as restrições de agora retornam Porto Alegre para o patamar daquelas que foram adotadas em março. “Tivemos que adotar uma medida extrema, mais grave. Optamos por retroceder as restrições estabelecidas em março com o objetivo, de novo, de achatar a curva de contágio. É uma decisão dura, mas é absolutamente necessária”, disse em entrevista à Folha.
O procurador geral de Justiça Fabiano Dallazen chegou a afirmar que essas medidas de flexibilização e inadequação podem ser consideradas casos de improbidade administrativa por parte do gestor.
De acordo com o infectologista Fernando Bozza, chefe do Laboratório de Medicina Intensiva da Fiocruz, para haver flexibilização é preciso haver, de preferência, uma queda no número de casos. “Algumas premissas são muito importantes, como estar na etapa de estabilização ou, de preferência, de queda no número de novos casos da doença”.
Outro ponto destacado pelo infectologista é que o sistema de saúde não pode estar sob grande estresse ou poderá colapsar com medidas de flexibilização. “O segundo ponto crucial é que o sistema de saúde não esteja sob grande estresse; até porque, se algo der errado, a situação será dramática. A terceira premissa é termos capacidade de testagem, diagnóstico e vigilância. Precisamos ter essas três condições para começarmos a conversar sobre flexibilização ou é precipitado”, explicou o infectologista.
No momento, o Brasil não cumpre nenhum desses requisitos. O número de casos de Covid-19 só aumenta e, em boletim divulgado na noite desta terça-feira (23), foram registradas 1.364 novas mortes pela doença e 40.131 novos casos. O número de mortes foi o segundo maior valor diário já registrado.
No Piauí, a situação não é diferente. Até o dia 22 de junho, foram 15.269 casos confirmados no estado e 517 óbitos pela Covid-19. Em apenas uma semana, de 15 a 22 de junho, foram confirmados 4.388 novos casos e 124 mortes.
Foto: Leandro Ferreira/AAN