Especialistas analisam prisão de Lula pela Polícia Federal
Fomos saber qual o impacto político, jurídico e historiográfico a prisão de Lula trará ao Brasil
Após mais de 25 horas depois da decretação de prisão por parte do juiz federal Sérgio Moro, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva se entregou à Polícia Federal. No despacho, Lula vai cumprir a pena na sede da Polícia Federal em Curitiba, em uma sala especial. O ex-presidente vai responder pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção e o início da pena deve acontecer em regime fechado.
A rede Piauí de Notícias foi ouvir três especialistas, após a prisão de Lula, em que chamou atenção de todo o mundo nos últimos dois dias
Lula sai no meio dos manifestantes para se entregar à PF / Crédito: Reprodução G1
Favorecimento de um eleitorado conservador
A Rede Piauí de Notícias conversou com o cientista político Cleber de Deus, que fez uma análise sobre a expedição do decreto que pediu a prisão do ex-presidente Lula bem como suas consequências e impactos.
Para Cleber de Deus, o julgamento do ex-presidente Lula transcorreu dentro da lei e não teve relação com perseguição política. “Todo o processo foi acompanhado pelo Judiciário e teve o aval da mais alta corte da justiça, o Supremo Tribunal Federal. Também foi acompanhado pela imprensa e o ex-presidente teve resguardado o direito à ampla defesa e ao contraditório”, declarou o cientista.
Cleber falou também que a prisão de um líder como o ex-presidente Lula pode impactar negativamente nos setores ditos de esquerda e favorecer o aparecimento de um eleitorado mais conservador representado, por exemplo, pelas ideias do deputado Jair Bolsonaro. “Os movimentos sociais, os sindicatos e os partidos mais próximo do PT terão grande desafio daqui pra frente e uma renovação não acontece de uma hora para outra. É normal que haja uma polarização de ideologias e pensamentos neste momento. Hoje se percebe claramente que há um eleitorado mais radical tentando levar um candidato à Presidência”, relatou.
De acordo com Cleber, a força que o PT ainda tem mesmo após a condenação de seu principal líder é o resultado de posturas adotadas pela sigla desde sua formação. “O PT sempre adotou um discurso que foi muito bem recebido, principalmente, pelas massas. A implementação de políticas sociais e assistencialistas agradou a uma grande parcela da sociedade brasileira”, finalizou.
Entra para a História do Brasil
O historiador Antonio Nascimento acredita que todo o processo que transcorreu acerca do nome de Lula, vai entrar para a história. Ele será o primeiro ex-presidente a ser preso por um crime comum. "Só o fato de ser o Lula chama a atenção. Ele foi aquele sujeito que saiu lá de baixo, que veio do nordeste,metalúrgico e chegou ao cargo público maior do Brasil, isso por si só já chamaria atenção e tá na história. Mas em contraponto, ele é o primeiro a ser preso por crime de corrupção. Quer dizer, o fato dele ter dado oportunidades as pessoas de adquirirem carros, móveis, eletrodomésticos, tudo isso gerou inimigos. Mas ao passo que gerou aliados que ele sempre combatia e que ele também, segundo a decisão da segunda instância também é acusado de corrupção. Ou seja, ele foi do ápice ao fundo poço", pontuou.
O estudioso acredita também que todo o ritual desses dois dias em que Lula esteve na sede do Sindicato, berço do seu início político, transmite algumas situações que mais tarde pode ser deixado evidente o que se queria dizer. "Qualquer coisa que se diga agora sobre esses dois dias que chamaram a atenção do país e até do mundo acerca a prisão de Lula pode não condizer com a verdade dos significados do que se queria dizer. Eu acredito que com o passar dos anos, a gente vai saber o que cada ritual desses dois dias emblemáticos vai poder ser esclarecido.", concluiu o historiador
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Sérgio Moro foi prudente
A Rede Piauí de Notícias também conversou com o advogado Ítalo Melo Filho que analisa o papel do juiz Sérgio Moro e da PF nesses dois dias em que Lula esteve na sede do Sindicato. "Todo mundo foi prudente. O juiz declarou em entrevista que não havia razão para adiar, mas ele foi paciente. Sabe o que significa, principalmente para a própria segurança de Lula."
O fato de Lula não respeitar o horário exigido para que Lula se apresentasse à sede da PF em Curitiba, o advogado não enxerga como um desrepeito à justiça. "Claro que não é desrespeito. Todo mundo sabia aonde ele estava e o próprio juiz sabia que iria dar essa comoção. Se tivesse feito de uma outra forma, talvez tivesse sido pior, até com mortes. Ele foi prudente, a Polícia Federal foi bastante prudente.", argumentou.
O advogado ainda disse que tudo pode reveter caso o STF queira discutir acerca do tema sobre a prisão em segunda instância. "Olha tudo pode mudar. Na próxima semana, todo mundo vai voltar os olhos para a presidente Carmén Lúcia, então fazer qualquer prognóstico agora é arriscado.", concluiu o advogado.