Esperança Garcia: A primeira advogada do Piauí
Reconhecida pela OAB, a homenageada teve Solenidade nessa terça-feira (05)
Na última terça-feira (5), a Ordem de Advogados do Brasil - Piauí celebrou a Esperança Garcia, que foi reconhecida como a primeira advogada do estado, considerara símbolo de resistência contra a escravidão.
Esperança Garcia foi uma escrava que residiu em uma das dezenas de fazendas que após a expulsão dos Jesuítas, passou para a administração governamental, e em 6 de setembro de 1770 escreveu uma carta ao Governador do Piauí revelando os maus-tratos que era submetida na fazenda.
A carta, conhecida como a segunda mais antiga do Brasil, foi escrita e assinada por uma mulher escrava e negra, e havia conteúdo de revolta, desabafo e reivindicação de uma escrava a autoridades.
O documento é considerado grandioso por além de ser escrito por uma mulher, que na época era considerado raro mulheres escrever, foi escrito por uma escrava.
Afirma-se que a carta se encontra em Portugal / Foto: Internet
Carta
"Eu sou hua escrava de V. Sa. administração de Capam. Antº Vieira de Couto, cazada. Desde que o Capam. lá foi adeministrar, q. me tirou da fazenda dos algodois, aonde vevia com meu marido, para ser cozinheira de sua caza, onde nella passo mto mal. A primeira hé q. ha grandes trovoadas de pancadas em hum filho nem sendo uhã criança q. lhe fez estrair sangue pella boca, em mim não poço esplicar q. sou hu colcham de pancadas, tanto q. cahy huã vez do sobrado abaccho peiada, por mezericordia de Ds. esCapei. A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confeçar a tres annos. E huã criança minha e duas mais por batizar. Pello q. Peço a V.S. pello amor de Ds. e do seu Valimto. ponha aos olhos em mim ordinando digo mandar a Procurador que mande p. a fazda. aonde elle me tirou pa eu viver com meu marido e batizar minha filha q.
De V.Sa. sua escrava Esperança Garcia”
Tradução da Carta
"Eu sou uma escrava de V.S.a administração de Capitão Antonio Vieira de Couto, casada. Desde que o Capitão lá foi administrar que me tirou da Fazenda dos Algodões, aonde vivia com meu marido, para ser cozinheira de sua casa, onde nela passo tão mal. A primeira é que há grandes trovoadas de pancadas em um filho nem, sendo uma criança que lhe fez extrair sangue pela boca; em mim não poço explicar que sou um colchão de pancadas, tanto que caí uma vez do sobrado abaixo, peada, por misericórdia de Deus escapei. A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confessar a três anos. E uma criança minha e duas mais por batizar. Pelo que peço a V.S. pelo amor de Deus e do seu valimento, ponha aos olhos em mim, ordenando ao Procurador que mande para a fazenda aonde ele me tirou para eu viver com meu marido e batizar minha filha.
De V.Sa. “Sua escrava, Esperança Garcia”
*Com informação da Redação R/Piauí