Exposição retrata vivências e histórias de moradores de rua
Mostra segue por um mês na Galeria do Inconsciente.
Pessoas com transtorno mental, usuárias de substâncias psicoativas, pessoas em situação de desemprego ou que romperam vínculos familiares. Estes são apenas alguns exemplos de motivos que levam as pessoas a viver na rua, e evidenciar esta aquarela de histórias das mais variadas por cima do preto e branco do senso comum é o objetivo da exposição “Esta Rua também é minha!”, que abriu hoje (25) e segue por um mês na Galeria do Inconsciente, que fica no Parque da Cidadania.
Exposição retrata vivências e histórias de moradores de rua.
A exposição é fruto das vivências dos profissionais do Consultório na Rua, equipe da Fundação Municipal de Saúde (FMS) especializada no atendimento a pessoas em situação de rua. Conforme explica a assistente social Melissa Lima, partiu da inquietação diária de ver a situação dessa população, que sofre do estigma e preconceito. “Essas pessoas são vistas como desocupadas e vagabundas, mas eles têm uma história por trás da atual condição de rua, e nós decidimos mostrar através do olhar do profissional de fotografia essas características deles”, conta.
O fotógrafo em questão é Marco Aurélio de Sousa, estudante de comunicação social. Ele esteve acompanhando a equipe por cerca de dois meses e pôde entrar em contato direto com aquela rotina, o que mudou sua visão sobre o morador de rua. “São pessoas que têm uma luta, elas estão todo dia sobrevivendo, sofrem todo tipo de violência e preconceito, e a ideia do ensaio é desmistificar isso”, relata. “É você ver a foto em preto e branco e ver que lá está representada a sua visão supérflua e superficial, fazer você quebrar isso, ir além disso e ver as cores que existem na rua”, explica o fotógrafo.
Um dos personagens das fotos é Hermerson Luís. Ex-usuário de drogas, trabalhou com desembargadores e frequentou os locais mais caros da cidade, até o dia em que se rendeu ao crack e relacionamentos que o fizeram “largar tudo e ser tão irresponsável com a família”. Saiu da casa dos pais, morou na rua por um ano e meio, e agora está acolhido por uma instituição religiosa. “Às vezes as pessoas perguntam ‘qual foi teu fundo do poço?’ aí eu digo que não tive um fundo do poço, eu tive um subterrâneo, onde uma vez eu vi uma luz no fim do túnel: a fé. Morar na rua ao mesmo tempo que pode ser considerado o ápice da liberdade pode também ser como estar preso num inferno, num estado de fragilidade e desconforto que me consumiu a ponto de ficar 30 quilos mais magro ou perturbado espiritualmente ou psicologicamente”. Para ele, o trabalho do Consultório na Rua contribuiu para que ele recuperasse a esperança e criasse forças de ir em busca de uma nova oportunidade, uma vez que viu que existiam pessoas que se preocupavam com sua situação e seus motivos de estar onde estava.
As fotos convidam para uma visão do seu dia a dia das pessoas em situação de rua, acompanhada de frases de autoria dos próprios usuários ou palavras muito ouvidas pelos profissionais do Consultório na Rua. Ou como explica a agente social Talita Camache, mostrar que se tratam de pessoas com problemas assim como qualquer um, e chamar atenção da sociedade para enxergá-los como seres humanos que precisam de atenção e garantia de direitos como todos nós, e a partir disso construir uma sociedade mais inclusiva para todos.
Consultório na Rua
O Consultório na Rua é uma equipe itinerante, composta por médico, enfermeiro, assistente social, psicólogo e agentes sociais, que faz uma assistência em toda Teresina para a população em situação de rua. A equipe registrou até dezembro de 2018 600 usuários cadastrados, e realiza uma média de 200 atendimentos por mês.
De acordo com Melissa Lima, o diferencial do Consultório na Rua é que a equipe procura pelo paciente e incentiva que ele dê atenção à sua saúde, mesmo em situação adversa. Ela explica ainda que no primeiro contato com o paciente em situação de rua o objetivo é fortalecer o vínculo com o usuário para depois fazer a abordagem. A maioria dos atendimentos se concentram em doenças sexualmente transmissíveis ou outros tipos de agravos como tuberculose, pneumonia ou doença de pele.
O trabalho é feito em conjunto órgãos de assistência social, como a Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência Social e Políticas Integradas (SEMCASPI), responsável por instituições como Casa do Caminho e Centro Pop, que auxiliam na localização e acompanhamento dessas pessoas.
Segundos dados do Centro Pop, Teresina tem atualmente 210 pessoas em situação de rua, dos quais 171 homens e 39 mulheres. No Brasil, estima-se que até o ano de 2015 existiam 101.854 indivíduos nessa situação, de acordo com dados do Censo do Sistema Único de Assistência Social (Censo SUAS).