Os segredos da notícia

Duas questões sobre o sistema de produção de notícia

Última atualização: 17 Abr 2024 - 02:58   


Você já leu uma notícia e ficou com a sensação que faltava mais informações sobre o assunto? 2pontos favorecem esta questão. Por vezes não parece, mas a atividade jornalística é fundamentalmente coletiva e colaborativa em sua essência prática. O fator principal é o “fast food” de meios e conteúdos espalhados através da tecnologia disponível na internet. Neste contexto a grande parte de dados no processo de construção da notícia é desperdiçada. Mas vamos aos pontos.

Segredos da Notícia


O 1ponto é causado pelo sistema industrial de produção da notícia que afeta diretamente grandes e médias empresas jornalísticas. Nestes lugares as redações são transformadas em linhas de montagem que tem como produto final a notícia consumida por todos nós no dia a dia. O 2ponto vem a partir do que chamamos da era do jornalismo digital. Aqui acontece um enorme desperdício de dados e informações provocadas pela ausência de políticas/processos de produção de conhecimento nas redações.


Não por acaso há quem diga que o sistema industrial no jornalismo passa por sua maior crise desde a invenção da imprensa por Gutenberg. Mesmo assim as rotinas, normas e a cultura gerada por esta industrial condicionam até hoje o trabalho da maioria dos profissionais em atividade. No sistema linha de montagem [criado por Henri Ford para a fabricação em larga escala de carros, adaptada para o jornalismo], a produção de notícias segue a lógica de mercado, ou seja, a notícia serve para vender jornal e atrair clientes, de forma que o que não está de acordo com este objetivo é lixo e é descartado.


Não é diferente o jornalismo praticado na internet. O sistema industrial analógico influencia diretamente no processamento da notícia para a internet. A tendência de mercado é que a internet abra mais espaço para editorias que buscam uma relação mais próxima com o leitor, telespectador, ouvinte e internauta. O desafio do jornalismo na internet é gerar engajamento a partir do público, valorizando o que vem sendo chamado pela plataforma REDE PIAUÍ, de jornalismo para solução. Neste caso a preocupação com os dilemas das pessoas é mais importante do que a atração de anunciantes.


O fato é que quando á mídia oferece elementos informativos para que as pessoas vejam alternativas de solução diferentes para seus problemas, o jornalismo recorre às técnicas de produção de conhecimento. Isso representa uma ruptura com o modo tradicional de processar as notícias. Nos dias atuais, as redações vivem o conflito entre produzir conteúdo relevante para a sociedade e a manutenção do sistema industrial voltado para a venda da notícia como uma espécie de commodity [Commodity significa mercadoria. é usado para descrever produtos de baixo valor agregado]. 

Existem estudos em universidades norte-americanas e em alguns países da Europa que sugerem como solução transformar as redações jornalísticas da era digital em Comunidades de Práticas (CPs).  Ou seja, que a redação seja entendida como ferramenta organizacional para produzir conhecimento. Esta ideia não é nova, surgiu ainda no final do século XX, e foi desenvolvida para a produção de conhecimento. Sites como o WikiLeaks [organização transnacional sem fins lucrativos, sediada na Suécia, que publica, em sua página, postagens de fontes anônimas, documentos, fotos e informações confidenciais, vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos sensíveis], também apontam para um rumo da produção de notícia diferente do tradicional. Mas este assunto requer mais aprofundamento e claro vamos abordar aos poucos aqui na nossa coluna 2pontos da comunicação.  

Iraildon Mota
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Jornalista e Relações Públicas
Dir. Pres. Comradio do Brasil 
Dir. Pres. da Agência Aliança Brasil Comunicação